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    Terminal privatizado por Ratinho Júnior é um dos alvos de operação contra o PCC em Paranaguá

    Privatizado em 2023, terminal PAR 50 era porta de entrada ilegal de metanol, segundo a Receita Federal

    JM

    José Marcos Lopes

    29 de agosto de 2025

    Terminal privatizado por Ratinho Júnior é um dos alvos de operação contra o PCC em Paranaguá

    A operação Carbono Oculto, da Receita Federal e do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), criada para combater fraudes no setor de combustíveis com possível envolvimento da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), investiga os fundos de investimentos envolvidos na aquisição do terminal PAR 50  do Porto de Paranaguá, privatizado em 2023 pelo governador Ratinho Júnior (PSD). 

    As investigações apontam que integrantes do PCC atuavam na importação irregular de metanol pelo terminal, informou a CNN Brasil nesta quinta-feira (28). Foram cumpridos 350 mandados de busca e apreensão, envolvendo pessoas físicas e jurídicas, em oito estados: São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) pediu o bloqueio de mais de R$ 1 bilhão em bens. 

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    Plural CuritibaRedação Plural

    Auditores da Receita Federal identificaram irregularidades em mais de mil postos de combustíveis em dez estados. A maioria desses postos recebiam dinheiro atuava na lavagem de dinheiro, segundo a Receita. Entre 2020 e 2024, a movimentação financeira desses estabelecimentos foi de R$ 52 bilhões, com recolhimento de tributos incompatível com suas atividades.

    Já a operação Tank, da Polícia Federal, também deflagrada na quinta-feira (28), indicou que 46 postos de combustíveis de Curitiba vendiam gasolina adulterada ou adotavam a prática conhecida como bomba baixa, em que o volume abastecido é inferior ao indicado. A adulteração envolveria o etanol importado ilegalmente, que entrava pelo Porto de Paranaguá.

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    Plural CuritibaAline Reis

    Segundo a PF, o grupo atuava desde 2019 e movimentou mais de R$ 23 bilhões por meio de uma rede composta por postos de combustíveis, distribuidoras, holdings, empresas de cobrança e instituições de pagamento. A PF identificou depósitos fracionados em espécie, uso de laranjas, transações cruzadas, repasses sem lastro fiscal, fraudes contábeis e simulação de aquisição de bens e serviços.

    Leilão

    O terminal PAR 50 foi arrematado em leilão na B3, em São Paulo, em fevereiro de 2023, por R$ 1 milhão, pelo FTS Group. Em novembro de 2023, a Liquipar Operações Portuárias S.A., empresa que pertencia ao FTS Group, foi adquirida pela Stronghold Infra Investiments, que atualmente controla o terminal.

    Ratinho Júnior no leilão de um dos cinco terminais do Porto de Paranaguá, privatizados, / Fotoem 2023 / Foto: Jonathan Campos / AEN

    Em junho deste ano, o governo do Paraná anunciou que a Liquipar faria R$ 572 milhões para triplicar a capacidade de escoamento de líquidos pelo terminal – especialmente de combustíveis. O anúncio foi feito em cerimônia com Ratinho Júnior. Segundo o governo, o terminal receberia um mínimo R$ 338,2 milhões em obras de ampliação da capacidade operacional. O terminal tem cerca de 85 mil metros quadrados e capacidade de 70 mil metros cúbicos de armazenagem, que subiria para 205 mil metros cúbicos.

    “Além ter a armazenagem de combustíveis líquidos, também poderá receber gás natural, ampliando a capacidade de movimentação de mercadorias pelo porto”, comentou Ratinho Júnior durante o anúncio dos investimentos. Segundo o sócio controlador da Liquipar, Cleiton Santos Santana, a idaia era triplicar a capacidade de armazenagem, de 70 milhões de litros para 205 milhões de litros.

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    Desde 2019, início do primeiro governo de Ratinho Júnior, cinco áreas do Porto de Paranaguá foram concedidas à iniciativa privada. Segundo o governo, "a concessão dá maior segurança jurídica e operacional ao porto, pois permite investimentos nessas áreas feitos pelas empresas vencedoras, a exemplo do previsto pela Liquipar. O governo ainda previa a concessão de de mais três terminais: PAR 14, PAR 15 e PAR 25.

    O Plural não conseguiu contato com a Liquipar na tarde desta sexta-feira (29) e fica à disposição de uma eventual manifestação. A empresa enviou nota sobre o assunto à CNN Brasil:

    A Liquipar Operações Portuárias esclarece que jamais movimentou qualquer carga de combustíveis, incluindo metanol, no Terminal PAR50, no Porto de Paranaguá. Desde que assumiu a administração do terminal, em abril de 2024, a Liquipar ainda não realizou nenhuma operação, inclusive, seus tanques permanecem vazios e nenhum tipo de produto foi movimentado até o presente momento.

    A ordem de serviço, que é emitida pela Autoridade Portuária e é indispensável para o início das operações, só foi expedida em junho de 2025. Até então, o terminal não estava apto a operar, o que tornaria tecnicamente impossível qualquer movimentação de cargas nesse período.

    É importante ressaltar que o licenciamento concedido pelo órgão ambiental IAT, não contempla a movimentação de metanol, limitando-se apenas a diesel, biodiesel e etanol;

    Essas informações podem ser facilmente comprovadas:
    - Pelas guias de importação, que não registram qualquer operação realizada pela Liquipar;
    - Pelas estatísticas oficiais disponíveis no site da Portos do Paraná;
    - Pelo ofício expedido pela Autoridade Portuária (PROTOCOLO nº: 24.368.330-0) em 6 de agosto de 2025 no qual solicita explicações pela ausência de movimentação junto ao terminal da Liquipar, o que comprova de forma inequívoca e incontroversa, que até o presente momento, não há qualquer movimentação de produtos no PAR 50, área arrendada cujo arrendatário é a Liquipar;
    Além disso, destaca que:
    - Todas as operações portuárias são controladas e fiscalizadas pela ANTAQ, Receita Federal, Portos do Paraná e demais autoridades competentes;

    O investimento de R$ 572 milhões anunciado pela empresa tem como objetivo exclusivo a modernização, a segurança e a ampliação da infraestrutura do terminal, de acordo com o previsto no contrato de arrendamento, em conformidade com todas as exigências legais e ambientais.

    A Liquipar é por definição um terminal portuário destinado ao armazenamento de líquidos em tanques fixos, ela não realiza transporte de mercadorias ou tampouco formula combustíveis.

    A Liquipar atua com absoluta transparência e está à disposição das autoridades para cooperar com as investigações, prestando todos os esclarecimentos necessários, em coerência com seu compromisso com a legalidade, a segurança e o desenvolvimento do Porto de Paranaguá.